1.7.09

Zé Maria e a caixa vazia - cordel

A cidade não se esquece
do herói Zé Maria
que era homem do dia-dia
e depois do acontecido
virou mendigo profeta.

O tempo foi passando
e a história também.
De geração em geração,
de boca a boca,
de ouvido em ouvido.

Aumentando o acontecido
criando um novo Deus
que hoje é cultuado
como santo que enganou o Diabo
vou contar como ocorreu.

Esta história que une
o real com o encantado
foi a muito tempo atrás
quando o homem andava a cavalo
e a mulher não sabia ler.


Nosso herói Zé Maria
pertencia a família ilustre.
Era homem estudado
que pensava que tudo sabia
que estava acima de Deus.

Mas pareceu inocente
quando o bode feito gente
um presente lhe entregou.
No embrulho não tinha nada,
nesta caixa vazia jazia a esperança.

Feito Pandora Zé Maria
nem de longe percebeu
que o que a serpente queria
era sua esperança, sua alegria,
em troca da caixa vazia.

Mas São Pedro não descansa
e vendo o perigo eminente
chamou anjo Gabriel,
desceu correndo do céu
tentou salvar a esperança.


Zé Maria curioso,
com a caixa em sua mão,
não sabia que estava
dentro de um grande duelo
entre o doente e o são.

Num ouvido o bode e a serpente,
no outro o anjo e São Pedro,
no meio este pobre coitado
entre o medo e o sonhado
sem saber o que fazer.

Na caixa vazia
o nada ficou enorme
tão grande que não cabia
dentro de nosso herói
a angústia de não saber.

Quanto mais ele pensava,
mais a mente criava
e mais apertado ficava
dentro da caixa que cria
além do bem e do mal.


No dia seguinte,
o comentário era geral.
A cidade estava em alvoroço,
todos vinham ver a carniça
do homem feito animal.

Zé Maria foi encontrado
como morto no meio da praça,
dava a impressão de estar livre
vestido apenas com uma caixa
que mal tampava seu desejo

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