1.7.09

O Ipê-rosa

Todo ano, o Ipê-rosa colore a Lagoa Rodrigo de Freitas, com suas flores flutuantes.
Para isso acontecer, o Ipê, leva os 365 dias se preparando e quando chega o inverno, explode rosa por todos os galhos, oferecendo um espetáculo visual.
Fotógrafos de todos os cantos do Rio de Janeiro vão brotando a sua volta, com suas lentes de caracol, para tornar eterno o ângulo inusitado, do momento incerto em que uma florzinha vai pendular e boiar até o chão.
Mas o Luis, passa e nem olha. Nem com rabo de olho, nem de lado, nem fingindo preguiça.
Ele passa e ignora a majestade de 20 metros, ignora sua nuvem rosa; ignora.
Fingindo não notar essa falta, eu comento: - Olha que lindo que está esse ipê, que colorido, que alegria!
A resposta vem com um bocejo: - É; pena que não combina com o lugar.
Nesse momento meu pensamento contrata biólogos, engenheiros florestais, paisagistas e operários para a difícil tarefa de combinar o Ipê.
Começamos cavando em volta da raiz com muito cuidado para não machucar a planta. Depois colocamos dentro de um recipiente preparado para acomodar a árvore durante o transporte. Regamos um pouco e lá se vai, meu pensamento transportando um Ipê de 20 metros e 100 toneladas para um campo comprido em que ele possa reinar único na paisagem.
Ao encontrar o local ideal, iniciamos o plantio do Ipê. Cavamos um buraco gigantesco e, com uma colher de café, começamos a cobrir a raiz.
Ao fim desse trabalho o Luis olha e diz: Aí ele parece muito grande!
E lá se vai meu pensamento, levando o Ipê para, cachoeiras, montanhas, florestas, serra, Paris, Espanha, Grécia. Cava aqui. Coloca ali. Mais para cima, mais em baixo.
E o Luis só diz: - Muito frio, muito alto, muito cheio, muito seco, muito cinza. Aí vai competir com as rosas. Não! Muito perto do mar...
Cansado, sem forças até para suspender o Ipê, meu pensamento agora sozinho, coloca a árvore de 20 metros e 100 toneladas nos ombros e, como Cristo, a leva de volta para a Lagoa Rodrigo de Freitas.
Eu olho para o Luis e no último fôlego, comento: - A Maria não gosta de rosa.
Como é difícil agradar o Luis!

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